Em
nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só
tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática, muito visível e de
utilidade imediata.
Por isso,
ninguém pergunta para quê as ciências, pois todo mundo imagina ver a utilidade
das ciências nos produtos da técnica, isto é, na aplicação científica à
realidade.
Todo mundo
também imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das
obras de arte quanto porque nossa cultura vê os artistas como gênios que
merecem ser valorizados para o elogio da humanidade.
Ninguém, todavia, consegue
ver para que serviria a filosofia, donde dizer-se: não serve para nada.
Parece, porém,
que o senso comum não percebe algo que os cientistas sabem muito bem.
As
ciências pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos graças a
procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade,
através de instrumentos e objetos técnicos; pretendem fazer progressos nos
conhecimentos, corrigindo-os e aumentando-os. Todas essas pretensões das
ciências pressupõem que elas acreditam na existência da verdade, de
procedimentos corretos para bem usar o pensamento, na tecnologia como aplicação
prática de teorias, na racionalidade dos conhecimentos, porque podem ser
corrigidos e aperfeiçoados.
Verdade,
pensamento, procedimentos especiais para conhecer fatos, relação entre teoria e
prática, correção e acúmulo de saberes: tudo isso não é ciência, são questões
filosóficas. O cientista parte delas como questões já
respondidas, mas é a filosofia que formula e busca respostas para elas.
Assim, o
trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da filosofia, mesmo
que o cientista não seja filósofo.
Fonte:
CHAUI, M. Filosofia,
Série Novo Ensino Médio, Volume Único, São Paulo, Editora Ática, 2004, pp.
10-11.
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