23/03/2015

Mito da caverna X Matrix

 Paralelo oportuno para sala de aula.





Matrix - Contribuições filosóficas


Em 1999, o cinema americano produziu Matrix (The Matrix, EUA, 1999), um filme, originalmente subestimado, que arregimentou milhares de admiradores no mundo todo e logo se transformou em uma referência para outras produções cinematográficas.


Comparação entre o filme Matrix e a filosofia grega de Sócrates e Platão.

O filme praticamente começa com a pergunta o que é Matrix? Alguém aí se lembra do diálogo entre Trinity e Neo? Então... ela lhe diz: - É a pergunta que nos impulsiona, Neo. Foi a pergunta que te trouxe aqui. Você conhece a pergunta assim como eu. E ele: - O que é a Matrix?. Em seguida, a jovem conclui: - Sim, a resposta está aí. Ela está à sua procura. E te encontrará se você desejar.

Mas e a relação desta passagem com a filosofia?

Bem, a filosofia ocidental (o pensamento crítico) surgiu na Grécia Antiga, por volta do século VI a. C., como uma alternativa ao mito (o pensamento ingênuo); ela começa através da pergunta o que é a realidade?


Platão exemplifica suas ideias sobre filosofia, política e realidade a partir da dramática alegoria da caverna sobre um grupo de prisioneiros confinados, desde o seu nascimento, no interior de uma caverna. Estão acorrentados de uma tal maneira que só conseguem olhar para frente e tudo que veem são sombras na parede. Tais sombras são projetadas pela escassa iluminação fornecida por uma fogueira que arde atrás deles. Entre a fogueira e os prisioneiros, há uma passagem ascendente para fora da caverna e através da qual diversas pessoas entram e saem, fazendo com que os prisioneiros vejam variadas formas de sombras e ouçam o eco das vozes dos transeuntes. Em seguida, Platão afirma que um dos prisioneiros, após árdua luta, consegue se libertar das correntes e fugir. Assim, pela primeira vez, o ex prisioneiro, pode contemplar algo além daquilo ao qual estava habituado. Mais do que meras sombras, ele vê a fogueira, os outros prisioneiros, a passagem ascendente e tudo o mais no interior da caverna. Depois, quando sai e atinge o mundo exterior, além de descobrir a existência de muitas outras coisas, é ofuscado por uma luminosidade ainda maior do que a da fogueira: a do Sol. Atordoado, ele retorna à caverna em busca de refúgio e, também, para relatar o ocorrido aos seus antigos companheiros - estes por sua vez, não creem na voz dissonante do fugitivo e se recusam a serem libertados para compartilhar da mesma ‘experiência’. Em contrapartida, os prisioneiros também não conseguem convencer o fugitivo de seu suposto devaneio. Assim, terminam por silenciar, hostilizar e matar o pária fugitivo.


No filme, Morpheus alerta Neo, no programa de treinamento (após ele se distrair com a Mulher de Vermelho que, num piscar de olhos, dá lugar a um agente letal), que qualquer um em Matrix é um agente em potencial.


Se considerarmos a linguagem metafísica e dualista de Platão (luz/sombra, ciência/opinião, essência/aparência), podemos afirmar que os prisioneiros são a humanidade ignorante - no sentido de não saber, não conhecer. Em Matrix, eles são representados pela humanidade prisioneira das máquinas tiranas.


As correntes que os retém são os hábitos retrógrados e nocivos (os vícios, opostos da virtude) que, se não impede, ao menos dificulta o acesso ao conhecimento. Em Matrix, as correntes também são nossos pseudoprazeres, a rotina e ilusão de realidade, resultado da simulação neurointerativa.


Uma vez que as sombras são as únicas coisas que os prisioneiros veem - não possuem outros referenciais - é natural que acreditem nelas como sendo a própria realidade - quando na verdade não são. Em Matrix, se você está sonhando e não percebe como pode saber que tudo aquilo não é realidade? - Acorde, Neo. (...) Siga o coelho branco.


O fugitivo representa o filósofo, aquele que tem acesso à luz - ao conhecimento. Em Matrix: é o que desconfia que esteja vivendo uma ilusão, como Neo.


O percurso até o conhecimento é ascendente e íngreme, assim como a passagem que une o interior ao exterior da caverna. Da mesma forma que a visão necessita de tempo para, de forma gradativa, assimilar as mudanças de tons claros e escuros a que são submetidos os objetos quando passamos das luzes às trevas e vice-versa; a compreensão e a aprendizagem demandam tempo, requerem um período para adaptação. Em Matrix recorde o difícil processo de readaptação pela qual Neo e todos os outros antes dele tiveram de se submeter.


A missão do filósofo (e de Neo ou de qualquer um que se livre do controle de Matrix, conforme esta interpretação) é conhecer a verdadeira realidade (sair da Matrix), regressar à caverna - lugar obscuro, pleno de crenças, aparências e superstições - (voltar à Matrix) e instruir os demais (em Matrix: libertar todos). Tarefa nada fácil, já que as ideias retrógradas são predominantes e costumam condenar, de modo prévio, todo ineditismo (em Matrix: não resista, esqueça, se submeta para não precisar ser eliminado).


Parafraseando Platão, podermos dizer que a realidade não é o que alguns apregoam que ela é. A realidade é virtual, é Matrix.




Referência :

Heraldo Aparecido Silva, professor de filosofia e vice-presidente do Centro de Estudos em Filosofia Americana/

https://omelete.uol.com.br/filmes/artigo/imatrixi-e-a-filosofia/

22/03/2015

"Reificação" [?] - Instrumentalizar: a matança em série do pensar reflexivo

Que tempos são esses onde a reflexão caminha a tornar-se reflexiva? São tempos da reflexão pedagógica, antropológica, científica? São todos ou nenhum? Ou outro algum?
São tempos.
 É tempo. E, são sempre as mesmas questões.

O professor de filosofia, em seu mundo sísifico, continua a rolar seu peso dividido entre o mundo pedagógico e um ideal metodológico para que possa oferecer condições que facilitem o aprendizado formativo. Pobre deste, pois não sabe quais são os fins pedagógicos do ensino da disciplina que elegeu para pesquisar.
            Descobre-se impotente diante das adversidades pessoais e leva em conta seus ideais, esquecendo – muitas vezes – o porquê dessa escolha.

Num primeiro momento, é oportuno enfatizar que – ao escolher professar, quaisquer que sejam as disciplinas, é preciso desprender, anular-se, tornar-se outro. Esvaziar-se. Só então poderemos compreender a importância da não instrumentalização da filosofia como disciplina escolar, a não doutrinação dos pensantes.
O professor, aquele – preso a um ponto de vista, faz com que seus alunos continuem a repetir o que seria “politicamente correto”, aceitável, sem ao menos permitir qualquer atitude crítica que possa vir a surgir. Não queremos tais educadores em nossas escolas. Já temos, em grande parte, nos colegiados governamentais. Não formam opiniões. Coagem - as.

É necessário desconfiar da instrumentalização da disciplina de filosofia na sala de aula, uma vez que não estamos formando pensantes fenecidos, mas estudantes competentes, com uma visão autêntica de realidade, sem que o mesmo repita ideias prontas, mas que tenhas as próprias. É necessário autonomia pensante, nada mais de repetição de fórmulas – ou mesmo teses filosóficas prontas, ideais econômicos pré estabelecidos, alcançando o que o texto menciona como “autonomia do pensar crítico”.

É preciso práxis e a inaptidão do professor em dispor-se a esse labor, torna a “real” formação dos jovens cada dia mais longínquo.

Não devemos esquecer que somos guias, formadores de opinião e que somos nós quem lançamos o fruto da repetição de ideias prontas. Ideias implantadas por nós através do ato de educar (explicitamente falando).


É preciso estudo, prudência e, sobretudo, desvencilhar do pronto, do acabado. Assim, estaremos prontos a estimular e oportunizar competências para que, num futuro próximo, alcancemos certa autonomia intelectual por parte de nossos alunos.

21/03/2015

Jürgem Habermas - 1929

Apesar da enorme complexidade do pensamento de Habermas, é possível descobrir algumas constantes:

1. Ao longo da sua vastíssima obra, tem procurado de criar uma  teoria crítica social que assente numa teoria da sociedade.


2. Assumindo-se como um dos defensores da modernidade, procura igualmente criar uma teoria da razão que inclua “teoria e prática”, o mesmo é dizer: uma teoria que seja ao mesmo tempo justificativa e explicativa.


3. A noção de interesse é nuclear no seu pensamento. Habermas parte do pressuposto que todo o conhecimento é induzido ou dirigido por interesses. Mas ao contrário de Marx não o reduz o conhecimento à esfera da produção, onde seria convertido em ideologia. Nem reduz os conflitos de interesses à luta de classes. A sua noção de interesse é muito ampla. Os interesses surgem de problemas que a humanidade enfrenta e a que tem que dar resposta. Os interesses  são estruturados por processos de aprendizagem e compreensão mútua. É neste contexto que Habermas afirma o princípio da racionalidade dos interesses. Distingue três grandes tipos de interesses, segundo uma hierarquia algo peculiar: a) técnicos; b) comunicativos; c) emancipatórios.

Os interesses técnicos surgem do desejo de domínio e controlo da natureza. Trata-se de interesses técnicos na medida em que a tecnologia se apoia ou está ligada à ciência. Todo conhecimento científico enquadra-se nesta esfera de interesses. 
Os interesses comunicativos levam os membros duma sociedade a entenderem-se (e às vezes a não entenderem-se) com outros membros da mesma da mesma comunidade, o que origina entendimentos e desentendimentos entre as várias comunidades. Nesta esfera de interesses estão as chamadas ciências do espírito (ciências humanísticas, culturais, etc.)
 Os interesses emancipatórios ou libertadores estão ligados à autorreflexão que permite estabelecer modos de comunicação entre os homens tornando razoáveis as suas interpretações. Estes interesses estão ligados à reflexão, às ciências críticas (teorias sociais), e pelo menos em parte, ao pensamento filosófico. Esta autorreflexão pode converter-se numa ciência, como ocorre com a psicanálise e a crítica das ideologias, mas uma ciência que é capaz transformar as outras ciências. O interesse  emancipatório resulta de ser um interesse justificador, explicativo enquanto justificador.

4.A autorreflexão individual é inseparável da educação social, e ambas são aspectos de emancipação social e humana. As decisões (práticas) são encaradas como atos racionais, onde não é possível separar a teoria da prática.



5. Todo o seu pensamento aponta, assim, para uma autorreflexão do espécie humana, cuja história natural nos vai dando conta dos níveis de racionalidade que a mesma atinge.

28/02/2015

Por uma forma [ação] menos precária.



Entendemos que o conceito de Cultura também é “atribuição de significados que damos ao mundo e a nós mesmos, é oportunidade de prazer, autorreconhecimento e autoprodução”. Alcançamos com isso que o espaço para o estímulo e formação desses caracteres é a escola e toda sua sistematização.

Será?

Se a Educação hoje é direcionada a produzir, fazendo com que mais e mais indivíduos (?) se ajoelhem diante da TV, teremos, num futuro próximo – se é que não ainda, a alienação total da sensibilidade humana. Parcial ela já o é. Controle. Adestramento, já que não vemos (ou vemos de forma velada) a preparação dos jovens frente a uma efetiva formação artística no âmbito escolar.
Por “formação artística” entendo principalmente o enriquecimento da nossa visão de mundo através da sensibilidade, o exercício da percepção que impetra uma dimensão criativa da realidade. Um real aprimoramento sensível do Ser. Se “ler textos filosóficos de forma significativa, de diferentes estruturas e registros”, necessita de determinada mentalidade “receptora”, então a Arte – de modo significativo, contribuirá para que essa leitura alcance tal objetivo. A arte não mostra as possibilidades do real, não aciona nossa imaginação? Não é através dela – também – que nos humanizamos?

É preciso repensar, pois, a formação dos estudantes diante da realidade vivenciada na rede pública de ensino. Estamos nos distanciando de nossa capacidade produtiva em função de nossa precária experiência escolar no quesito “sensibilidade”. Como parâmetro, podemos citar as atrocidades e ruídos musicais ganhando notoriedade, a cultura de massa cada dia mais intensa frente aos alienados pela insensibilidade (ao que Kant concebe como gosto – capacidade de julgamento), um total empobrecimento criativo e perceptivo. 
A escola como sistema emancipatório (?) não propicia um questionamento eficaz, já que, somente nas séries iniciais do Ensino Médio o estudante apreciará a disciplina Filosofia. E antes? Fazemos o quê?

Quantas vezes o pensador sairá da caverna e morrerá pelos insanos por alegar a verdade da luz? Quantas mais? O ensino de Filosofia fará tal resgate?

O que dizer da formação inicial do estudante nesse parâmetro? Precária, seria sutil. Deixar que o ensino filosófico restaure essas lacunas?

Sabemos que o Homem sempre questionou temas como origem e fim do universo, causas sobre as coisas e seres, natureza, busca por repostas metafísicas, epistêmicas, científicas etc. Essa busca de um conhecimento que transcende a realidade imediata constitui a essência do pensamento filosófico, que ao longo da história percorreu os mais variados caminhos, seguiu interesses diversos, elaborou muitos métodos de reflexão e chegou a várias conclusões, em diferentes sistemas filosóficos.

Assim, com a inserção da disciplina de Filosofia no sistema formador da educação, sairemos da mesmice cognitiva da sensibilidade alçando voos mais altos para uma possível e eficaz experiência estética. É no que confiamos.

Referências:
MARTINS, profª Dra. Maria Helena Pires. O ensino de filosofia da Arte ou Estética. UFSCAR, 2015.

Bóson de Higs (por Marcelo Gleiser)




Marcelo Gleiser é um físico, astrônomo, professor, escritor e roteirista brasileiro, atualmente pesquisador da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. É membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society.


Furto da sensibilidade: breve consideração

     A Indústria cultural tem como objetivo “roubar” a capacidade reflexiva do sujeito, tornando-o incapaz de contemplar a obra de arte não fazendo distinção entre arte e produto de consumo.
Há um sistema de dominação que condiciona o gosto e inibe a capacidade crítica e reflexiva fazendo com que a obra de arte perca sua integralidade, passando ser conhecida como clichê, chavão de comercial, ou seja, fragmento solto, perdendo sua essência  artística.

Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam essas capacidade em virtude de sua própria constituição objetiva (ADORNO & HORKHEIMER, 1997:119).

            Assim, a intenção da Indústria Cultural é obscurecer a percepção de todas as pessoas, principalmente daqueles que são formadores de opinião. Ela é a própria ideologia. Os valores passam a ser regidos por ela. Até mesmo a felicidade do individuo é influenciada e condicionada por essa cultura Levando o individuo a não ter opinião própria desenvolvida  repetindo o que lhe é imposto.

Referências bibliográficas:

HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W., Dialética do Esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

[pRé] Socráticos

    FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS (ou físicos)   Nome Contexto   Escola Principais...