06/04/2014

Tempo: Agostinho e Bergson (parte II)

              O tempo da história, que denominamos “imaginário” (psicológico), depende do tempo real (cronológico) - que não é outro senão o tempo que o relógio assinala -  é a maneira pela qual o tempo é subjetivamente vivenciado pelos indivíduos.
            O tempo é, e sempre tem sido um problema filosófico de grande interesse, não só para filósofos e cientistas, mas também para o indivíduo comum, que está acostumado a organizar e realizar suas tarefas e experiências de acordo com a ideia de tempo concebida como sucessão de instantes traduzida em presente, passado e futuro.
            Santo Agostinho (354-430) foi um dos grandes pensadores a se preocupar com esta problemática. A reflexão filosófica agostiniana sobre o tempo encontrada no Livro XI da obra Confissões defronta-se com algumas dificuldades principais ao falar sobre o tempo pois não podemos apreendê-lo - ele nos escapa – assim como não conseguimos medi-lo. E também não podemos percebê-lo; diz-nos Agostinho em Confissões:

Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. (CONFISSÕES, livro XI, cap.14, p. 322)

            Nossa percepção do tempo permite dividi-lo em três partes: passado, presente e futuro. E, a partir de nossa experiência, sabemos que esses três tempos são bastante distintos entre si.
            Santo Agostinho entende que existe outra maneira de pensar o tempo sem ser em termos espaciais, mas a partir de outro elemento que é a linguagem, a fala; continuamos pensando o tempo, mas sem a tentativa de explicar a sua essência. Podemos tentar apreendê-lo a partir de nossas práticas linguísticas, porque a linguagem adquire sentido a partir do tempo. Em outras palavras, a linguagem articula o tempo e o tempo articula a própria linguagem; conclui o bispo: Pensar o tempo significa, portanto, a obrigação de pensar na linguagem que o diz e que nele se diz.
            Para o bispo de Hipona, os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das coisas presentes, presente das coisas futuras. O passado é o tempo que se afasta de nós, de nossa consciência, de nossa percepção; é tudo que já não é mais palpável, simplesmente porque já se foi. O presente é o “agora”, o tempo em que nossas experiências acontecem, no momento em que ocorrem. E o futuro, por sua vez, corresponde ao conjunto de todos os eventos que se concretizam na medida em que o tempo passa.
            Para Agostinho, fora da criação existe somente a eternidade de Deus, que consiste na imutabilidade, na ausência de tempo.

           

Nenhum comentário:

Postar um comentário

[pRé] Socráticos

    FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS (ou físicos)   Nome Contexto   Escola Principais...