O tempo da
história, que denominamos “imaginário” (psicológico), depende do tempo real
(cronológico) - que não é
outro senão o tempo que o relógio assinala -
é a maneira pela qual o tempo é subjetivamente vivenciado pelos indivíduos.
O
tempo é, e sempre tem sido um problema filosófico de grande interesse, não só
para filósofos e cientistas, mas também para o indivíduo comum, que está
acostumado a organizar e realizar suas tarefas e experiências de acordo com a ideia de tempo concebida como sucessão de instantes traduzida em presente,
passado e futuro.
Santo
Agostinho (354-430) foi um dos grandes pensadores a se preocupar com esta
problemática. A reflexão filosófica agostiniana sobre o tempo encontrada no
Livro XI da obra Confissões defronta-se
com algumas dificuldades principais ao falar sobre o tempo pois não podemos apreendê-lo
- ele nos escapa – assim como não conseguimos medi-lo. E também não podemos
percebê-lo; diz-nos Agostinho em Confissões:
Que
é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá
apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o
seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do
que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos
também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o
tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a
pergunta, já não sei. (CONFISSÕES, livro XI, cap.14, p. 322)
Nossa
percepção do tempo permite dividi-lo em três partes: passado, presente e
futuro. E, a partir de nossa experiência, sabemos que esses três tempos são
bastante distintos entre si.
Santo Agostinho entende que existe
outra maneira de pensar o tempo sem ser em termos espaciais, mas a partir de
outro elemento que é a linguagem, a fala; continuamos pensando o tempo, mas sem
a tentativa de explicar a sua essência. Podemos tentar apreendê-lo a partir de
nossas práticas linguísticas, porque a linguagem adquire sentido a partir do
tempo. Em outras palavras, a linguagem articula o tempo e o tempo articula a
própria linguagem; conclui o bispo: Pensar
o tempo
significa, portanto, a obrigação de pensar na linguagem que o diz e que nele se
diz.
Para o bispo de Hipona, os tempos são três: presente das
coisas passadas, presente das coisas presentes, presente das coisas futuras. O
passado é o tempo que se afasta de nós, de nossa consciência, de nossa
percepção; é tudo que já não é mais palpável, simplesmente porque já se foi. O
presente é o “agora”, o tempo em que nossas experiências acontecem, no momento
em que ocorrem. E o futuro, por sua vez, corresponde ao conjunto de todos os
eventos que se concretizam na medida em que o tempo passa.
Para Agostinho, fora da criação existe
somente a eternidade de Deus, que consiste na imutabilidade, na ausência de
tempo.
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