O período que compreende o final do
século XIX e o começo do século XX é marcado pelo positivismo e pelo
cientificismo; as ciências particulares deveriam seguir o paradigma das
ciências positivas, cujo modelo era a física e assim trabalhar com dados empíricos
e mensuráveis submetidos à lei de causalidade.
O
filósofo Henri Bergson (1859 – 1941) é um crítico dos pressupostos filosóficos
da ciência de sua época, particularmente, da psicologia e da biologia.
Bergson
busca construir uma metafísica que não ignora a realidade de fato. Compreende
que o primeiro acesso a essa realidade é a vida interior, constituída por nossa
psique; assim, volta seu olhar a esse acesso privilegiado, buscando compreender
sua natureza, antes de buscar investigar a realidade tida como exterior.
Descobre que essa vida interior é de natureza
temporal: o tempo, enquanto duração é a essência da vida psíquica. Todavia,
não é assim que, no geral, a psicologia de seu tempo a entendeu; marcada pelo
determinismo psicofísico, acabou por não reconhecer a verdadeira natureza
psíquica, entendendo-a como sendo de natureza espacial.
No
início do século XX, quanto mais complexa tornava-se a organização da vida
sobre o planeta, maior era a necessidade de que esse tempo fosse único e
sincronizado.
Num passo adiante das necessidades cotidianas,
A. Einstein (1879 - 1955) percebeu que esse tempo único era múltiplo, que sua
medida dependia do observador. Bergson não rejeitou a relatividade. Ao
contrário, percebeu na linguagem simbólica da teoria algo ressonante com sua
própria filosofia e reconheceu o valor científico desta criação da inteligência
humana, mas uma observação feita pelo filósofo francês em 1922 procurou mostrar
o que há de intuição na inteligência e o que há de duração no tempo da relatividade.
Infelizmente,
a questão bergsoniana foi ofuscada pelo mito de Einstein.
Desde
o começo de suas investigações, Bergson procurou o que está ausente na
filosofia: a precisão. Surpreendeu-se ao constatar que tanto a física quanto a
matemática não se ocupavam do “tempo real”; o tempo que elas tratavam era um
tempo que não servia para nada (...), não fazia nada. (Ensaio de 1930, ”Le possible et le réel”); mas se a
física e a matemática não se ocupavam do tempo real, de que tempo se ocupavam? Numa
concepção abstrata do tempo, os fenômenos que se sucedem no mundo físico seguem
uma ordem constante e intemporal, em que a distinção do passado, presente e
futuro parece ilusória. Trata-se de um tempo no qual a mesma causa sempre
produz o mesmo efeito e é isso que torna possível o estabelecimento de leis que
permitem a previsão, ao cálculo antecipado dos fenômenos futuros que preexistem
de certa forma à sua realização.
Bergson
explica como se processa a “confusão entre tempo e espaço”, quando exprimimos a
duração pela extensão, e a sucessão toma para nós a forma de uma linha
contínua, ou de uma cadeia, cujas partes se tocam sem se penetrar.
Assim,
quando definimos o tempo desta forma estamos definindo na realidade, o espaço e
a verdadeira duração..
Bergson
vê o tempo real como heterogêneo e qualitativo.
Tempo é mudança essencial e
contínua, passa incessantemente modificando tudo e constitui a própria essência
da realidade psíquica.
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