06/04/2014

Tempo: Agostinho e Bergson (parte III)

          O período que compreende o final do século XIX e o começo do século XX é marcado pelo positivismo e pelo cientificismo; as ciências particulares deveriam seguir o paradigma das ciências positivas, cujo modelo era a física e assim trabalhar com dados empíricos e mensuráveis submetidos à lei de causalidade.
            O filósofo Henri Bergson (1859 – 1941) é um crítico dos pressupostos filosóficos da ciência de sua época, particularmente, da psicologia e da biologia.
            Bergson busca construir uma metafísica que não ignora a realidade de fato. Compreende que o primeiro acesso a essa realidade é a vida interior, constituída por nossa psique; assim, volta seu olhar a esse acesso privilegiado, buscando compreender sua natureza, antes de buscar investigar a realidade tida como exterior. Descobre que essa vida interior é de natureza temporal: o tempo, enquanto duração é a essência da vida psíquica. Todavia, não é assim que, no geral, a psicologia de seu tempo a entendeu; marcada pelo determinismo psicofísico, acabou por não reconhecer a verdadeira natureza psíquica, entendendo-a como sendo de natureza espacial.

            No início do século XX, quanto mais complexa tornava-se a organização da vida sobre o planeta, maior era a necessidade de que esse tempo fosse único e sincronizado.
          Num passo adiante das necessidades cotidianas, A. Einstein (1879 - 1955) percebeu que esse tempo único era múltiplo, que sua medida dependia do observador. Bergson não rejeitou a relatividade. Ao contrário, percebeu na linguagem simbólica da teoria algo ressonante com sua própria filosofia e reconheceu o valor científico desta criação da inteligência humana, mas uma observação feita pelo filósofo francês em 1922 procurou mostrar o que há de intuição na inteligência e o que há de duração no tempo da relatividade.  
            Infelizmente, a questão bergsoniana foi ofuscada pelo mito de Einstein.
            Desde o começo de suas investigações, Bergson procurou o que está ausente na filosofia: a precisão. Surpreendeu-se ao constatar que tanto a física quanto a matemática não se ocupavam do “tempo real”; o tempo que elas tratavam era um tempo que não servia para nada (...), não fazia nada. (Ensaio de 1930, ”Le possible et le réel”); mas se a física e a matemática não se ocupavam do tempo real, de que tempo se ocupavam? Numa concepção abstrata do tempo, os fenômenos que se sucedem no mundo físico seguem uma ordem constante e intemporal, em que a distinção do passado, presente e futuro parece ilusória. Trata-se de um tempo no qual a mesma causa sempre produz o mesmo efeito e é isso que torna possível o estabelecimento de leis que permitem a previsão, ao cálculo antecipado dos fenômenos futuros que preexistem de certa forma à sua realização.
            Bergson explica como se processa a “confusão entre tempo e espaço”, quando exprimimos a duração pela extensão, e a sucessão toma para nós a forma de uma linha contínua, ou de uma cadeia, cujas partes se tocam sem se penetrar.
            Assim, quando definimos o tempo desta forma estamos definindo na realidade, o espaço e a verdadeira duração..
            Bergson vê o tempo real como heterogêneo e qualitativo.
            Tempo é mudança essencial e contínua, passa incessantemente modificando tudo e constitui a própria essência da realidade psíquica. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

[pRé] Socráticos

    FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS (ou físicos)   Nome Contexto   Escola Principais...